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Mostrando postagens de novembro, 2024

Incêndio

Teu nome me atravessa como lâmina, fundo e fino, rasgando o silêncio que eu teimo em vestir. Há uma violência em te amar, um rasgar de veias, uma fome insaciável que grita no osso. Tu és o grito seco da navalha, o pulso em convulsão, o relâmpago que cega e queima. Eu corro entre teus braços como quem foge do incêndio, mas me prendo na fagulha e acendo outra vez. Amar-te é cuspir no espelho, é ferir-se de propósito, é cavar buracos no peito e encher com tua ausência. Tu me tens inteira, não como uma rosa mas como o espinho.

Brasil

O Brasil não cabe nas palavras, é um sentir, um vibrar, um cheiro de terra molhada após a tempestade de verão. É o grito que ecoa no coração das matas, o som do mar que abraça uma costa infinita, promessas feitas em areia dourada. Há uma alma que dança nos ritmos do seu povo, nos passos que cruzam as ruas, nas vozes que cantam o amanhã. Mas o Brasil é também silêncio, é mistério em suas serras, um céu que se veste de estrelas como quem guarda segredos. É um país que ama demais, que sofre com o mesmo fervor. Uma pátria que insiste em sonhar mesmo quando o mundo a desafia. Brasil, pedaço de vida, terra que pulsa sob nossos pés. Tão amado, tão sofrido, tão eterno em sua grandeza.

Às Mulheres Negras

Há em ti uma força que não se explica. Algo que não cabe no olhar alheio, nem no nome que ousam te dar. És o que és, e isso basta para fazer tremer os alicerces do mundo. Tua vitória não precisa de plateia. Ela é íntima, como um sussurro, como o vento que modela as pedras sem que ninguém perceba. És feita de uma matéria antiga, um mistério que atravessa o tempo, que vem de vozes caladas e de mãos que ergueram sonhos no impossível. Cada passo teu é revolução. Não por querer mudar o mundo, mas porque, ao existir, tu o recrias. És guerreira, sim, mas não por lutar. Por resistir em silêncio, por transformar o cotidiano em poesia, e a dor, em uma beleza só tua. O que te move não é a vitória, mas o pulsar da vida em tua pele. És capaz porque és. E isso, ainda que calado, é a mais alta forma de gritar.

Mulher

Não sou costela, sou vértebra, coluna que sustenta tempestades. Andei descalça por ruas de ferro, ouvi sussurros que tentaram me moldar, mas meus pés marcaram o chão, meus passos quebraram o molde. Carrego na pele o grito das minhas, vozes abafadas por véus invisíveis, mas agora, o véu queima. Minha palavra é lâmina, corta o hábito, refaz o mundo. Não sou promessa, sou a ruptura, a pausa que reescreve a pauta. Se digo que vou, vou inteira. Se fico, permaneço densa. Não espero aplausos, espero queimar pontes antigas, e ver no horizonte a dança de corpos livres. Não me calo, sou o eco de todas que vieram antes, sou o silêncio que se rompe no ato de existir.

Saudade

Punhal cravado no peito, ferro frio, aço amargo. Cada segundo é uma lâmina roçando a carne viva da ausência. Grito rouco no vazio — quem ouve? Quem sente? A saudade rasga, mordaz, como bicho faminto, que dilacera o coração em busca do que não volta. São unhas sujas cavando lembranças, um relógio que sangra os minutos, uma tortura sem intervalo. E a solidão? Cão selvagem rondando a noite, com olhos de aço e dentes de escuridão. Não há fuga, não há abrigo, só o eco da tua falta correndo pelos labirintos do meu peito. E o punhal, sempre ali, brilhando, sorrindo, prometendo dor, só dor.

Sobreviver a Si Mesmo

É aceitar-se como mar em fúria e, ainda assim, mergulhar sem bóia. É caminhar pelas próprias ruínas, olhando as pedras e reconhecendo-se nelas. Sobreviver a si mesmo é naufragar e, no fundo escuro, encontrar um fio de luz que você nem sabia carregar. É suportar o peso da pele que te veste, do coração que pulsa desobediente. Não há manual, nem atalhos. A sobrevivência é feita de quedas e da arte de levantar-se, não para vencer, mas para olhar no espelho sem desviar os olhos. É perdoar a sombra que te segue, abraçá-la como parte do que és. É escrever com o caos as linhas tortas de um livro que só você pode ler. Sobreviver a si mesmo é viver no descompasso, no tropeço, na dúvida, na febre. E ainda assim, ter a audácia de acreditar que amanhã há de caber mais vida em ti.

Libertação

Arranque as amarras da pele, desfaça os nós da garganta. Queime as flores murchas no altar das culpas inúteis. Rompa o silêncio podre, grite até despedaçar o eco. Não se curve aos punhos de ferro que esmagam tua voz na calada. Enterre os rostos vazios, despreze os olhares mendigos. Lave-se do lodo dos outros, do peso que nunca foi teu. Corte a corda que te segura à beira, não tema a queda — temer é morrer antes de voar. Abra o peito, nu e ensanguentado, para o vento que arranca máscaras. Seja o que resta depois do caos. Seja cinza e renascimento. Seja, enfim, tua própria revolução.

Entre o Fim e o Começo

A madrugada se estende como um lençol velho, marcado pelas dobras da inquietação. Horas de olhos semiabertos, o corpo em rendição parcial, mas a mente teimosa: repete-se em sonecas curtas, em labirintos de sonhos incompletos. E então, sem aviso, o amanhecer. Ele chega como um intruso delicado, espalhando luz pelas frestas, empurrando a noite para os cantos da memória. Há um fim na madrugada que não é tristeza, mas alívio, um recomeço que se veste de coragem: levantar, mesmo que o peso ainda esteja ali. Ir, apesar das pausas que pedimos ao mundo. O amanhecer é a promessa de um pacto silencioso. Ele não exige certezas, apenas o gesto de abrir os olhos, de tentar outra vez, de ser, mesmo quando ser parece demais.

O café da Vida

Há um ritual que se repete silenciosamente em milhões de lares, escritórios, esquinas e corações: o café. Quente, forte, amargo ou adoçado, ele é mais do que uma bebida — é uma pausa, uma promessa, um suspiro do cotidiano. O café carrega em si uma espécie de magia. É o primeiro gesto do dia, o despertar das almas cansadas e das máquinas silenciosas. Antes mesmo do pão ser cortado, a água ferve na chaleira, e o aroma inconfundível se espalha pela casa. Ali, naquele instante, o café não é só um líquido escuro; é uma ponte entre o que fomos ontem e o que podemos ser hoje. Na padaria, o cafezinho é um pretexto para encontros fugazes e conversas demoradas. “Um pingado, por favor.” E pronto, o silêncio se dissolve, as línguas se soltam. Falamos do clima, das notícias, das pequenas tragédias da vida. Com o café na mão, as palavras fluem com mais calor, como se a bebida nos lembrasse da força que vem de dentro, de um grão triturado para virar energia. Mas o café não é apenas de festa. Ele é o ...

Rastro na Terra

Teu nome é poeira de estrada. Gruda na pele, entra no sangue, segue comigo, mesmo quando o caminho diz que não devo voltar. Amar-te foi cavar com as mãos nuas um poço seco no meio do sertão. Fui ficando sem unhas, sem força, mas a sede me empurrava pra frente. Tu eras faca cega, me cortando aos poucos, um aço que nunca brilha, mas dói sempre. O amor não veio como flor nem chuva, mas como sol escaldante, rachando o que eu tinha de inteiro, virando tudo pó. Hoje, carrego teus vestígios. Teu rastro ainda marca meu chão, teu cheiro ainda mora no ar seco. Mas não há mais quem me siga. Fiquei sozinha com o silêncio das noites, tentando costurar o rasgo da tua ausência com linhas que sempre arrebentam. E quando penso em ti, não há mais lágrima, nem reza, nem esperança. Só essa memória rude e calada, de quem amou como se morre: devagar e sem volta.

Vermelho

O vermelho respira, um pulso que ecoa em carne aberta, fagulha quente que desce pelas veias do tempo. É sangue, sim, mas não só. É a febre queima-rente no centro do peito, é o grito mudo de um campo de batalha, a poeira ensanguentada que recusa o silêncio. Nos olhos, um incêndio. A vermelhidão do cansaço, das vigílias que o amor impõe, das guerras internas que a alma trava quando o desejo e a dor colidem. Ah, vermelho... Fosse apenas uma cor, mas é memória cravada na pele. É o rubor que confessa o que não pode ser dito, a ferida exposta, o incêndio que dança, o calor da vida que insiste em arder. Se o mundo tem cor, ela é essa: fúria, paixão, uma lâmina que corta e costura, uma chama que vive, que queima e não pede permissão.

O Fim que Liberta

Descobri que amar era um peso. Não o amor em si, mas o teu amor. Uma gaiola dourada que apertava as asas até que voar não fosse mais possível. Era bonito, quase poético, mas sufocava. Um jardim de flores mortas, perfume de um tempo que já não existia. Entendi, num lampejo de silêncio, que amor não se implora. Ele nasce livre, não conhece amarras, não se dobra ao capricho. E eu, tão presa, segurei as chaves do fim. Chaves que doem nas mãos, mas abrem portas que levam ao ar. Libertar-me de ti foi despir-me de mim mesma, daquela que te amava além do que deveria, além do que era amor. Agora, o vazio é vasto. Mas é meu. Um espaço onde posso respirar, onde não há grades, apenas o eco suave do que fui e do que posso ser.

Amor Improvável

Te vi numa esquina de um dia qualquer, com o cheiro do acaso grudado na pele. Nada em você parecia meu, nem os olhos, nem o gesto, nem o silêncio que deixava escapar entre as mãos. E ainda assim, algo em mim cedeu. Um tropeço interno, um ruído de portas abrindo onde nunca houve corredor. Era o seu riso – um mapa que me levava ao inesperado. Era o jeito de não caber na moldura, de desviar das obviedades, de existir fora do que eu sabia nomear. Mas veja só, eu, tão acostumada a resistir, de repente decorando suas vírgulas, como se você fosse livro antigo, perdido no meu porão. E agora estamos aqui, num território que não pertence a ninguém, procurando no outro as sobras de um mundo que nunca nos prometeu lugar.

A Guerra dos Saltos Altos

Hoje o dia começou com uma batalha épica: eu contra o salto alto. Não era qualquer salto, era um gladiador, cinco centímetros de arrogância equilibrada em uma sola de má intenção. Escolhi ele porque, sabe como é, mulher tem que sofrer com estilo, mesmo que o destino seja um escritório onde a máquina de café é o ponto alto da aventura. Mas o dia estava apenas começando. Primeiro round: o ônibus. Quem usa salto no transporte público sabe que está jogando na dificuldade máxima. A cada freada, um balé desequilibrado. Tive que agarrar o ferro de apoio como quem se agarra à dignidade. A senhora ao meu lado, munida de um guarda-chuva e uma expressão de “o mundo está perdido”, olhou para mim como se eu fosse a responsável pela queda da civilização ocidental. Cheguei ao trabalho com um pé no salto e outro na revolta. Claro, a impressora estava quebrada. Sempre está. Impressoras têm algo contra mulheres que usam salto. É uma teoria que desenvolvi depois de notar que só travam comigo, enquanto o ...

Amor Sublime

Há um amor que vive em silêncio, como a luz que rompe o amanhecer, deslizando pelos contornos da alma, sem pressa, sem peso, sem deter. É um amor que não conhece margens, nem os limites do que é terreno, mas vaga, livre e intangível, em um tempo que é sempre eterno. Não busca forma ou nome, é essência, é pura respiração, um ritmo que o universo guarda no mais profundo da criação. Esse amor não espera retorno, nem clama por reciprocidade; ele é plenitude que se basta, poesia feita de eternidade. É o toque do invisível na vida, a presença sem rosto ou lugar, um instante suspenso no tempo, a chama que jamais irá apagar. Não pede, não prende, é voo e raiz. No vazio do mundo, é onde se é feliz. E assim, nos habita inteiro, como brisa que move o olhar, um amor que é verbo e infinito, e nunca deixa de brilhar.
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Acreditar

Acreditar é um fio tênue, uma corda bamba entre o vazio e o tudo. É se lançar ao vento sem saber se há asas, mas com a certeza de que o chão pode esperar. É sentir o eco do que ainda não nasceu, perceber o pulsar do que não se vê, e, ainda assim, caminhar. Acreditar é abrir portas que nunca existiram, criar caminhos onde só havia escuridão, é erguer castelos com mãos vazias, inventar o amanhã com a fé de uma criança. É o ato inesperado de quem desafia o vazio, o gesto quase louco de quem dança com o desconhecido. E, no final, acreditar é menos sobre o que está lá fora, e mais sobre o que vibra aqui dentro, essa centelha que se recusa a apagar.

Reflexões à madrugada

A cidade dorme, mas algo em mim não sabe parar. Os ponteiros arranham o silêncio como quem descasca uma ferida. Eu ouço. No quarto, a respiração do mundo é distante, quase um eco. O escuro escorre pelas paredes, me veste, me consome. Sou uma frase interrompida, um grito que hesita na garganta. Quem sou eu, quando ninguém está olhando? Na madrugada, tudo parece maior. Ou menor. Sinto frio, mas não me cubro. O calor da dúvida me basta.

Ser

Quem sou? O espelho reflete uma moldura, mas o centro escapa. É pele, é nome, é silêncio que fala e se esconde. O ser é um labirinto, um fio entrelaçado com memórias que não reconheço e desejos que não ouso. Eu existo na fresta do instante, onde a razão cede ao mistério e o coração pulsa sem pedir licença. Sou o que penso ser? Ou sou o que escapa ao pensamento? No toque da terra, na brisa que invade a janela, me percebo inteira e ainda assim fragmentada, como se o mundo fosse feito de retalhos e eu a costureira distraída. Ser é caminhar na própria ausência, encontrar-se no que não se explica, aceitar-se sem saber. Sou, porque continuo perguntando.
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Amor de Silêncios

Quis tocar teu rosto com palavras, mas tropecei no vazio que deixaste. Era tua ausência que habitava, um eco mudo em meu desejo. Tentei ser brisa, acariciar teus dias sem pedir abrigo. Mas teus olhos, imensos, não enxergavam meu naufrágio. Amei-te como se ama o impossível, com a urgência de quem não cabe em si. E foste para mim um horizonte que nunca se alcança, um mistério que se recusa a ser desvendado. Resta-me agora esse peso doce, esse amor que é só meu. E, no fundo, talvez eu ame mais assim: sem que me vejas, sem que me saibas.

Solidão

 "A solidão é uma carta sem destinatário, escrita no avesso do silêncio."

Reflexão

 "Ela se perde em cada esquina do próprio pensamento, tateando um sentido que escapa, enquanto a vida segue, crua."

Feridas Invisíveis

Há dores que não sabem morrer, que habitam o silêncio como fantasmas antigos. Elas andam descalças por dentro de mim, deixando rastros que ninguém vê. É um peso que não pesa, mas me curva. Uma ausência que não se vai, mas que também não fica inteira. É o eco de um grito que não dei, uma palavra perdida entre a garganta e o mundo. Algumas noites, elas sussurram segredos que não entendo. Outras, ficam quietas, mas presentes, como uma vela acesa numa sala vazia. E eu as acolho. Não por escolha, mas porque aprendi que lutar contra o invisível é abrir novas feridas. Elas não cicatrizam. Apenas aprendem a dormir um pouco mais. E eu? Eu sigo acordada, tentando sobreviver ao que nunca parte.

Cicatrizes de Ébano

Herdei o grito das correntes, o peso do aço no tornozelo, e a música que rasga o silêncio como um barco que nunca atraca. Nas ruas, o chão guarda histórias que os livros se esquecem de contar, mas meus pés sabem onde pisar: em cada pedra, uma sombra, em cada esquina, um nome apagado. Passaram-se os anos, mas o aço não enferruja na memória. A pele carrega mapas de dor e o espelho reflete rostos que não cabem em molduras brancas. A luta é canto e açoite, é abraço e fúria contida. E quando danço, é para desafiar o tempo, para lembrar que o corpo é meu e não pertence a ninguém. Hoje, sou terra que floresce na rachadura do concreto, sou a voz que resiste ao vento, sou o tambor que nunca cessa, que ecoa além dos anos, além do esquecimento.

Recomeço

 Recomeço é essa palavra que atravessa a garganta, em silêncio, uma tarde que se desfez em mil pedaços e ainda assim insiste em surgir. É no instante vago entre o último passo e o primeiro, que a gente se encontra outra vez, sem saber exatamente quem somos, mas com a certeza de que algo se reconstruirá. Recomeçar é um ato lento, quase imperceptível, feito o vento que rearruma a poeira sem que a gente perceba a mudança que já está feita. E então, em algum canto da alma, a gente se dá permissão. Para ser outra, para ser quem ainda não se sabe, mas é. E esse recomeço não é uma fuga, é um gesto profundo de quem se permite existir, sem pressa, sem culpa, apenas esperando o novo vir no seu próprio tempo.
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Amores

 Os amores chegam de forma inesperada, como uma brisa que entra pela janela, sem aviso, sem licença. E é aí que a pele se arrepia, o coração começa a bater em outro ritmo, como se tivesse sempre esperado aquele instante de quietude no meio do caos. Mas amor, ah, amor... não é simples, não é suave. Ele vem e se faz em pedaços, como uma história mal contada, uma ferida aberta, um medo disfarçado de desejo. Amar é buscar a outra metade que nunca se conhece, é uma dança entre o ter e o não ter, entre o querer e o desistir. Amar é perder-se, só para se reencontrar no silêncio da presença, ou na solidão do vazio. E mesmo quando tudo se desfaz, quando as palavras se tornam eco, o amor fica. Fica como um perfume no ar, como uma lembrança que não se apaga. E ainda assim, a gente insiste, porque talvez o amor seja apenas isso: a tentativa incessante de ser tudo o que não sabemos em alguém que também não sabe de nada.

A Vida

 A vida, essa estranha dança, onde os passos não são meus, mas o corpo insiste, segue o ritmo sem saber. A cada manhã, uma surpresa, uma sensação de que tudo começa, e, ao mesmo tempo, que tudo já se foi. É um jogo de esconde-esconde com o tempo, onde a verdade se perde, e a mentira se veste de certeza. Eu olho para o vazio e me encontro, no eco do que nunca disse, na palavra que ficou engasgada antes de sair da garganta. Mas o que é a vida, senão uma busca sem mapa, sem fim? Nós, criaturas errantes, tentamos entender, mas a cada resposta uma nova pergunta se abre. E, assim, seguimos, sem saber onde termina o que começamos, na ilusão de que estamos indo para algum lugar, quando talvez estejamos apenas dentro de nós mesmos.

Quem Sou

 Eu sou aquele pedaço de vida que não se explica, Que se agita no silêncio das horas, Que guarda o peso e a leveza, Que se perde e se encontra, Sem nunca entender exatamente o que é. Sou a dor e o riso que me acompanham Como se fossem meus próprios passos. Caminho pelas brechas do tempo, Às vezes correndo, outras vezes, me arrastando. Mas sou, acima de tudo, um reflexo De algo que pulsa, sem saber ainda o quê. Fui feita de pedaços de histórias não contadas, De amores e perdas que ficaram nos cantos da alma. Não busco respostas, mas me enfrento com a verdade Que, mesmo às cegas, se desenha em mim Como uma palavra ainda não dita. E quem sou eu, afinal? Talvez só uma tentativa de existir, A espera do próximo recomeço, Que vem sempre, sem avisar, Com a suavidade de quem já sabe o fim, Mas se permite ser.