Rastro na Terra
Teu nome é poeira de estrada.
Gruda na pele, entra no sangue,
segue comigo, mesmo quando o caminho
diz que não devo voltar.
Amar-te foi cavar com as mãos nuas
um poço seco no meio do sertão.
Fui ficando sem unhas, sem força,
mas a sede me empurrava pra frente.
Tu eras faca cega,
me cortando aos poucos,
um aço que nunca brilha,
mas dói sempre.
O amor não veio como flor nem chuva,
mas como sol escaldante,
rachando o que eu tinha de inteiro,
virando tudo pó.
Hoje, carrego teus vestígios.
Teu rastro ainda marca meu chão,
teu cheiro ainda mora no ar seco.
Mas não há mais quem me siga.
Fiquei sozinha com o silêncio das noites,
tentando costurar o rasgo da tua ausência
com linhas que sempre arrebentam.
E quando penso em ti,
não há mais lágrima, nem reza,
nem esperança.
Só essa memória rude e calada,
de quem amou como se morre:
devagar e sem volta.
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