A Guerra dos Saltos Altos

Hoje o dia começou com uma batalha épica: eu contra o salto alto. Não era qualquer salto, era um gladiador, cinco centímetros de arrogância equilibrada em uma sola de má intenção. Escolhi ele porque, sabe como é, mulher tem que sofrer com estilo, mesmo que o destino seja um escritório onde a máquina de café é o ponto alto da aventura. Mas o dia estava apenas começando. Primeiro round: o ônibus. Quem usa salto no transporte público sabe que está jogando na dificuldade máxima. A cada freada, um balé desequilibrado. Tive que agarrar o ferro de apoio como quem se agarra à dignidade. A senhora ao meu lado, munida de um guarda-chuva e uma expressão de “o mundo está perdido”, olhou para mim como se eu fosse a responsável pela queda da civilização ocidental. Cheguei ao trabalho com um pé no salto e outro na revolta. Claro, a impressora estava quebrada. Sempre está. Impressoras têm algo contra mulheres que usam salto. É uma teoria que desenvolvi depois de notar que só travam comigo, enquanto o estagiário consegue fazer funcionar com um tapa. Mas o estagiário é homem e usa tênis, o que deve ser o segredo.Na hora do almoço, resolvi ousar e andar duas quadras até o restaurante “natural”, que de natural só tem o preço – tudo custa mais caro do que minha força de vontade para ser saudável. E foi lá, na fila do buffet, que o salto decidiu me trair. Um giro inesperado e minha perna dobrou de um jeito que só é possível em comerciais de anti-inflamatórios.Quando finalmente cheguei em casa, joguei os saltos na sapateira como quem se despede de um inimigo vencido. Amanhã vou de sapatilha, pensei. Mas aí lembrei da reunião com a chefe, aquela que mede a competência pelo tamanho do salto. Respirei fundo. Ser mulher é isso: equilibrar o mundo nas alturas, enquanto a gente tenta não cair.


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