Cicatrizes de Ébano

Herdei o grito das correntes,

o peso do aço no tornozelo,

e a música que rasga o silêncio

como um barco que nunca atraca.


Nas ruas, o chão guarda histórias

que os livros se esquecem de contar,

mas meus pés sabem onde pisar:

em cada pedra, uma sombra,

em cada esquina, um nome apagado.


Passaram-se os anos,

mas o aço não enferruja na memória.

A pele carrega mapas de dor

e o espelho reflete rostos

que não cabem em molduras brancas.


A luta é canto e açoite,

é abraço e fúria contida.

E quando danço,

é para desafiar o tempo,

para lembrar que o corpo é meu

e não pertence a ninguém.


Hoje, sou terra que floresce

na rachadura do concreto,

sou a voz que resiste ao vento,

sou o tambor que nunca cessa,

que ecoa além dos anos,

além do esquecimento.


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